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Sequelas

by Surdos Mútuos

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about

O texto foi escrito pelo César David Sousa. A música foi composta ao vivo e de improviso pelo João Menezes Nero na guitarra eléctrica e pelo Pedro Silva aka Filho dum MOCHO nos sintetizadores+modulares. A voz veio-se do João Meirinhos. São 4 consequências do mesmo sintoma. Somos Sequelas unxs dxs/pelxs outrxs ou issx.

credits

released November 24, 1984

Faço greve ao sono.

O cão lambe-se – ou talvez se escreva – alheio à futilidade de mais um acorde semimudo no vídeo viral do momento. Eu também – médio.
Há cigarros e dopamina envolvida. Acreditamos que o tempo passa mais devagar se pensarmos menos. Mas há momentos, como se os soubesse explicar, que irrompem de si mesmos e da sua banalidade para parar o tempo por completo; que não exigem mais ou menos pensamento, este ou aquele estado de euforia, que abdicam por completo da mais remota hipótese de se tornarem significativos e emergem da sua irrelevância para se tornarem imortais, como a própria morte. Sobram as cascas de vozes das páginas preenchidas a papel celofano que almeja preservar-nos no vácuo da representatividade quando o objetivo final se traça a si mesmo à medida que a tinta passa – na paixão obsoleta do desentendimento encontramos por vezes trechos de almas parvas que teimam em explicar-nos, hífen por hímen, tamanha desexistência; tendemos a refastelar-nos em segredo no seu regaço póstumo considerando talvez que seria possível ter tido, permitisse a física quântica não harmonizada com a teoria de tudo, ponto semibreve a acrescentar ou debater num universo paralelo igualmente impiedoso.

A estabilidade, essa, porquanto seja motor de progressão da pirâmide de necessidades de Maslow, sabe deus quem seja, impede a forma mais antiga de progressão intelectual e científica: a ruptura. E fomos capazes de criar deus naquela caverna alegórica que tantas vezes havia sido alvo de reconstrução histórica em programas de domingo à tarde no Discovery Channel, grafado com o "D" de Disney, entre os leilões, os restauradores de motas e as focas do alaska, deus as guarde, e é pelo mesmo ecrã HD que assistimos placidamente à decomposição líquida da massa encefálica, retina, córnea, bons costumes; já ninguém usa o ponto e vírgula como antigamente, o caderno é demasiado bonito para devaneios, não há tempo a perder nem pestanas a queimar e ai de ti que voltes a incorrer no filhadaputa desse palimpsesto uma vez mais; até o erro foi transformado em figura de estilo de uma estética inescapável que tende em fazer mais vítimas do que o mais exuberante dos holocaustos, são linhas, senhor, linhas sem ritmo que se sucedem ao arfar dos corpos inertes que insistem em aliterar-se em simultâneo em categorias pornográficas inexploradas que deixariam a necrofilia coberta de vergonha; conjuntos de protões contra a entropia; ninguém disse que a caspa poderia fazer sentido ou servir qualquer propósito evolutivo;
que se foda Darwin, Angela Merkel, Justin Bieber, Cleopatra, Walter White, os vulcões criogénicos mal colocados da Europa, energia geotérmica sub-aproveitada, camarões saborosos da(s) profundeza(s), gelatina instantânea, comida com menos sal e sobremesas com menos açúcar, todos os cabelos que alguma vez cortei dentro de um tapete de arraiolos gigante, maldita seja a memória limitada que me interrompe o raciocínio a cada vírgula, que me incapacita o ser a cada rolo de papel higiénico; diz-me, que mal há-de vir ao mundo? Que empregada doméstica em situação de nada parca precariedade te há-de negar sua factura? Por que Uber me tomas?

Entre as coisas que apanho do lixo procuro desesperadamente por algo que agarre o tempo que nunca irei dedicar a nada tão efémero quanto um pedaço de existência que encontrei no lixo. Colecciono aspirações como quem cospe no chá e lamento apenas todo o tempo que já não gasto a reflectir sobre os sonhos que raramente tenho em substituição de mesas de perna única e a música porto-riquenha de genérico de série que foda-se, repito-me

nunca chegou bem a existir no serviço de subscrição que a custo incluí resolvido no pacote de dados que há-de um dia desferir a tacada final na apetecível bola de golfe que é a minha decadência. "Estou a fazer um filme!" Não, não estou.

A ceifa de silva porto atravessa traços de trigo para recriar a magnífica visão de uma ceara anónima que jamais me apetecerá visitar, o hipertexto torna-se insuportável à medida que os anos passam e apetece-me preencher o planeta de linhas racionais que prolongam a existência do pixel até ao cúmulo do seu aborrecimento. De forma intragável creio-te sob o controlo efémero do próximo botão que carregarei com desprezo durante a próxima década. Consumo-te como carne criada em laboratório. Vejo-te flácida perante as intempéries, vazia perante o destino, morta perante a tinta de choco que há-de tingir a massa dos nossos filhos.

A nossa vida é ficção científica na medida em que não há warp mode que alguma vez consiga pôr um event horizon final em tudo isto, um minuto de silêncio pela ausência de espinha dorsal generalizada e pelo crepitar da tag cloud que tornará, no futuro, um conjunto de temáticas personalizadas em algo facilmente pesquisável nos vinte e dois segundos que disponibilizaste na tua hora de almoço para a procura do teu inner self na ânsia de bater todo um novo recorde pessoal no triatlo de não vomitar, o mundo é a tua amêijoa e as vírgulas, essas, leva-as o vento, e o saramago não usa pontos apesar de nunca o teres lido e já ia sendo altura de pegares nessa perda suburbana e ligares à tua mãe, freud explica, a tinta desfalece e o sonho torna-se imperativo, que nossa senhora te preserve esta caligrafia de médico e conta bancária de talhante de razoável sucesso, o cão tem tosse, a bota chispe, são martinho avizinha-se de castanhas e nunca havia visto um azevinho em estado selvagem, tu abre-me esses poros,
foda-se, a tinta
o tempo
a vida

teimam em ir com o caralho

logo agora que me tinha dado para escrever.

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about

Surdos Mútuos Lisbon, Portugal

SURDOS MÚTUOS são um colectivo de poesia psicadélica e ruído presunçoso oriundo dos distúrbios de Lisboa.

Experimental é um insulto | Tudo isto é absurdo.

Heavy layers of mature angst meet an anti-everything dose of alien hypertextual improvised psychovisual extravagant performances of cringe glossolalia from The Pagan Church of Discordian Whatever.

Page design: Tangerina Atómica + MidJourney
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